Museus de Milão reabrem após 78 dias de lockdown, mas poucos visitantes aparecem

Corredores vazios, ingressos sobrando e parques cheios: saiba como foi a volta dos museus na cidade


Galeria de Arte Moderna (Fabiana Seragusa/Culturice)

Poder voltar a frequentar museus é uma alegria sem fim para quem ama cultura. A Itália já havia liberado a reabertura dos espaços na semana passada, mas em Milão a volta às atividades só foi possível a partir desta terça-feira (26), com uma série de medidas especiais de segurança.

Uma delas é que os museus vão funcionar em dias diferentes. Às terças e quartas, temos a Galeria de Arte Moderna, o Museu de História Natural, o Aquário Cívico e o Museu do Ressurgimento. Às quintas e sextas, as opções são a Casa-Museu Boschi di Stefano e o Museu-Estúdio Francesco Messina.

Aos sábados e domingos, dá para visitar o Museu del Novecento, o Museu Arquelógico e o Palácio Morando, e o Museu da Cultura ganhou três dias: às sextas, aos sábados e aos domingos. Os grandiosos museus do Castello Sforzesco e a Pinacoteca de Brera ainda não definiram a data de reabertura, pois estão adequando os sistemas de ar-condicionado, que não podem realizar a função de recirculação de ar, por causa do novo coronavírus.

Galeria de Arte Moderna (Fabiana Seragusa/Culturice)

Mas agora vamos às visitas. 

O Culturice foi à Galeria de Arte Moderna e ao Museu de História Natural nesta terça (26), no primeiro dia de reabertura. Os ingressos só podem ser vendidos ou reservados (no caso de quem tem direito a entrada grátis ou desconto) pelo site, e sobraram muitos.

De acordo com o jornal italiano Corriere Della Sera, apenas 90 reservas tinham sido feitas até segunda-feira (25), contabilizando todos os museus da cidade. Cada local define o número máximo de pessoas que pode entrar a cada meia hora. São grupos pequenos para evitar tumulto.

Na Galeria de Arte Moderna, por exemplo, são aceitos apenas 5 visitantes por vez, mas mesmo assim, até o dia anterior, nenhum dos horários estava esgotado – e em muitos deles continuava a ter 5 disponíveis. Na própria terça, dava para comprar bilhetes para qualquer período.

Óleo em tela “Tete de Femme – La Mediterranée” (1957), de Pablo Picasso, na Galeria de Arte Moderna de Milão (Fabiana Seragusa/Culturice)

As medidas de saúde exigidas para a reabertura dos museus começam já na entrada, com a obrigatoriedade do uso de máscara e da higienização das mãos com álcool gel, além de medição de febre (quem tiver mais de 37,5ºC não pode entrar). O guarda-volumes, nesse primeiro momento, não funciona.

Já dentro do museu, centenas de obras de arte até então solitárias voltaram a ganhar vida sob os olhos dos visitantes, mesmo que escassos, por enquanto. A “Tete de Femme – La Mediterranée”, de Pablo Picasso, agora pode ser admirada de pertinho, assim como a “Cargo aux Cheminées Jaunes – Paesaggio Marino a Cherbourg”, de Henri Matisse

“Beethoven Giovinetto”, de Giuseppe Grandi (Fabiana Seragusa/Culturice)

Além da orientação de manter ao menos 1 metro de distância entre as pessoas, os museus passaram a determinar uma rota específica para a visita: não dá para ficar andando livremente como antes, indo e voltando para as salas. É preciso seguir a rota pré-definida.

Pelos espaços da Galeria de Arte Moderna dá para ver, ainda, pinturas de Francesco Hayes, considerado o máximo expoente do romanticismo histórico, e esculturas de Vincenzo Vela, Giovanni Spertini e Giuseppe Grandi, dentre outros artistas.

“Flora (La Primavera)”, de Vincenzo Vela (Fabiana Seragusa/Culturice)

 

Já no Museu de História Natural, que fica a 250 metros da Galeria, o vazio era o mesmo. Por lá, o número de pessoas com permissão para entrar a cada meia hora é maior, 10, mas durante mais ou menos 1 hora de passeio eu só encontrei um outro visitante, acompanhado de duas crianças. O parque que circunda o museu, por outro lado, estava lotado.

Quem andava, brincava ou corria por lá deixou de ver reconstruções de dinossauros em tamanho real, reproduções de ambientes selvagens e descrições de animais de todos os tipos, além de informações sobre a evolução do homem, minérios e outros segmentos da natureza.

O horário de funcionamento dos espaços ficou fixo de 11h às 18h, e os ingressos podem ser reservados pelo site VivaTicket.

Museu de História Natural (Fabiana Seragusa/Culturice)

Após 78 dias de confinamento, o que fica claro é que a reabertura dos museus não atraiu de imediato a atenção dos italianos. E os motivos podem ser vários, como a alternância das datas de abertura (coisa que nesse primeiro momento pode dificultar o planejamento) ou a decisão de ainda não sair de casa para entretenimento. Mas também vale lembrar que a maioria dos visitantes costumam ser turistas, que por enquanto estão impedidos de entrar no país.

Fato é que o retorno dos museus marcou a volta das atividades culturais na Itália, e isso representa muito. A previsão do governo é de que cinemas e teatros comecem a funcionar já a partir de 15 de junho, mas muitos representantes de empresas já disseram que a reabertura, com todas as medidas restritivas obrigatórias, não vai ser viável.

Museu de História Natural (Fabiana Seragusa/Culturice)